quinta-feira, 15 de outubro de 2009



O amor e a loucura...



Contam eu uma vez se reuniram todos os sentimentos e qualidades do homem em um lugar da terra.

Quando o ABORRECIMENTO havia reclamado pela terceira vez, a LOUCURA, como sempre tão louca, lhes propôs:

-Vamos brincar de esconde-esconde?

A INTRIGA levantou a sobrancelha intrigada e a CURIOSIDADE sem poder conter-se perguntou:

-Esconde-esconde? Como é isso?

-É um jogo, explicou a LOUCURA, em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem, e quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará o meu lugar para continuar o jogo.

O ENTUSIASMO dançou seguido pela EUFORIA.

A ALEGRIA deu tantos saltos que acabou pôr convencer a Dúvida e até mesmo a APATIA que nunca se interessavam pôr nada. Mas nem todos quiseram participar.

A VERDADE preferiu não esconder-se. "Para que, se no final todos me encontram?"

A SOBERBA opinou que era um jogo muito tonto (no fundo o que a incomodava era que a idéia não tivesse sido dela).

A COVARDIA preferiu não arriscar-se.

-Um, dois, três, quatro... –Começou a contar a LOUCURA.

A primeira a esconder-se foi a PRESSA, que como sempre caiu atrás da primeira pedra do caminho.

A FÉ subiu aos céu e a INVEJA se escondeu atrás da sombra do TRIUNFO, que com seu próprio esforço tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta.

A GENEROSIDADE quase não consegue esconder-se, pois cada local que encontrava, lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos. Se era um lago cristalino, ideal para a BELEZA. Se era a copa de uma árvore, perfeito para a TIMIDEZ. Se era o vôo de uma borboleta, o melhor para a VOLÚPIA. Se era uma rajada de vento, magnífico para a LIBERDADE.
E assim acabou escondendo-se em um raio de sol.

O EGOÍSMO ao contrário, encontrou um, local muito bom desde o início. Ventilado, cômodo, mas apenas para ele.

A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano (mentira, escondeu-se atrás do arco-íris). E a PAIXÃO e o DESEJO no centro dos vulcões.

O ESQUECIMENTO, não recordo-me aonde escondeu-se, mas isso não é o mais importante.

Quando a LOUCURA já estava lá pelo 999.999, o AMOR ainda não havia encontrado um local para esconder-se, pois todos já estavam ocupados, até que encontrou uma roseira e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre suas flores.

A primeira a aparecer foi a PRESSA, apenas a três passos de uma pedra.
Depois escutou-se a FÉ discutindo com Deus, no céu, sobre zoologia.
Sentiu-se vibrar a PAIXÃO e o DESEJO nos vulcões.

Em um descuido, a LOUCURA encontrou a inveja e claro, pôde deduzir onde estava o TRIUNFO. O EGOÍSMO, não teve nem que procurá-lo: ele sozinho saiu disparado do seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas.

De tanto caminhar a LOUCURA sentiu sede e ao aproximar-se de um lago, descobriu a BELEZA. ADÚVIDA foi mais fácil ainda, pois a encontrou sentada sobre uma cerca sem decidir de que lado esconder-se.

E assim foi encontrando a todos. O TALENTO entre a erva fresca, a ANGÚSTIA em uma cova escura, a MENTIRA atrás do arca-íris (mentira, na verdade estava no fundo do oceano) e até o ESQUECIMENTO, que já havia esquecido que estava brincando de esconde-esconde.

Apenas o Amor não aparecia em nenhum local.

A LOUCURA procurou atrás de cada árvore, em baixo de cada rocha do planeta e em cima das montanhas. Quando estava a ponto de dar-se pôr vencida, encontrou um roseiral.
Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando, no mesmo instante, escutou um doloroso grito. Os espinhos tinham ferido o AMOR nos olhos.

A LOUCURA não sabia o que fazer para desculpar-se.
Chorou, rezou, implorou, pediu perdão e até prometeu ser seu guia.

Desde então, desde que pela primeira vez se brincou de esconde-esconde na terra, o AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha.

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