terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Casamento


Vinte anos. Ah, os vinte anos! De casados, claro!
Casamos novos. Ela com 19 e eu com 20 anos de idade. Lua-de-mel, viagens, mobílias na casa alugada, prestações da casa própria e o primeiro bebê.
Anos oitenta e a moda era ter uma filmadora do Paraguai. Sempre tinha um vizinho ou amigo contrabandista disposto a trazer aquela muambazinha por um preço módico.
Ela tinha vergonha, mas eu desejava eternizar aquele momento.Invadi a sala de parto com a câmera no ombro e chorei enquanto filmava o parto do meu primeiro filho. Todo mundo que chegava lá em casa era obrigado a assistir o filme. Perdi a conta das cópias que fiz do parto e distribuí entre amigos, parentes e parentes dos amigos. Meu filho e minha esposa eram o meu orgulho.
Três anos depois, novo parto, nova filmagem, nova crise de choro. Como ela categoricamente disse que não queria que eu filmasse, invadi a sala de parto mais uma vez com a câmera ao ombro. As pessoas que me conhecem sabem que havia apenas amor de pai e marido naquele ato. O fato de fazer diversas cópias da fita era apenas uma demonstração de meu orgulho.
Nada que se comparasse ao fato de ela, essa semana, invadir a sala do meu proctologista, câmera ao ombro, filmando o meu exame de próstata.
Eu lá, com as pernas naquelas malditas braçadeiras, o cara com um dedo (ele jura que era só um!) quase na minha garganta e a mulher gritando:
— Ah! Doutor! Que maravilha! Vou fazer duas mil cópias dessa fita! Semana que vem estou enviando uma para o senhor!
Meus olhos saindo da órbita a fuzilaram, mas a dor era tanta que não conseguia falar. O miserável do médico girou o dedo e eu vi o teto a dois centímetros do meu nariz. A mulher continuou a gritar, como um diretor de cinema:
— Isso, doutor! Agora gire de novo, mais devagar. Vou dar um close agora...
Alcancei um sapato na mesa e joguei na maldita.
Agora, estou escrevendo este e-mail, pedindo aos amigos que receberem uma cópia do filme, que o enviem de volta para mim. Eu pago o reembolso.


Texto atribuido à Luis Fernando Veríssimo.

3 comentários:

  1. KAKAKAKAKA
    ESSA É ÓTIMA!!!
    Luis Fernando tem um humor maravilhoso!
    bjos

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  2. Este texto não é de Verissimo e sim de J. Miguel (http://www.escrita.com.br/escrita/leitura.asp?Texto_ID=128)
    Peço a gentileza de corrigir a autoria.
    Se desejar postar em seu blog algum outro texto do link acima, senta-se à vontade, desde que mantendo a autoria.
    Cordialmente,
    J. Miguel.

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