terça-feira, 16 de março de 2010

Domingo se vai...


Eu caí de você.

Mentira. Eu não caí.

Você me jogou.

Lembro exatamente do dia em que ouvi o eco da minha própria voz desesperada, gritando no vazio dos seus olhos.

Escorri como a lágrima que você nunca chorou.

Todos sabiam que beber dessa água salgada era mortal.

Todos sabiam, menos eu.

Mas tinha certeza que seria em vão a tentativa de me equilibrar em um nariz que sempre aponta pro alto.

Cheguei na sua boca para tentar me despedir.

Mentira.

Eu queria reconciliação em lábios macios, mas eles acharam que o melhor seria cuspir quando deveriam beijar.

Me acertou.

A língua foi um trampolim.

O desejo era cair dentro do seu umbigo para entender essa sua individualidade, mas me espatifei nesse seu abdômen narcisamente perfeito.

Eu fiz de tudo para ser seu reflexo e enguli litros de mágoas, enquanto você fazia sexo sem olhar pra mim.

Tentei te segurar no meu sexo.

Tentei me segurar no seu sexo, mas suas mãos dispensaram minha boca com um movimento de que fariam tudo sozinhas.

Eu queria te chupar pra dentro de mim sem saber o quanto era grande.

Foi então que eu caí de você.

Mentira, já disse. Você me jogou.

Minhas últimas palavras foram sangrando aos seus pés.

Pés que desviaram de mim sem ter pena. Sem olhar pra baixo.

Engano pensar que o mais seguro seria ficar dentro de você.

Nunca fui atirada de um lugar tão alto.
Rodolfo Barreto

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