terça-feira, 23 de março de 2010

Metade


METADE



Que a força do medo que tenho

não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,

mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe seja linda,

ainda que tristeza.

Que a mulher que eu amo seja para sempre amada,mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece,

nem repetidas com fervor,

Apenas respeitadas como a única coisa que restaa um homem inundado de sentimento.

Porque metade de mim é o que ouço,

mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.

Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que penso,

e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste,que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.

Porque metade de mim é a lembrança do que fui,

a outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegriapara me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio me fale cada vez mais.

Porque metade de mim é abrigo,a outra metade é cansaço.

Que a vida nos aponte uma resposta,mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é a platéia e a outra metade é canção.Que minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor e a outra metade... também.

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